sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O MÉTODO DE ESTUDO - TERCEIRA PARTE

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO

A última postagem da série sobre a proposta de um Método Eficiente de Estudo - baseada no livro Metodologia do Trabalho Científico, de Antônio Joaquim Severino -, trata da análise e interpretação de textos. É, talvez, a parte mais importante do método, porque diz respeito diretamente à compreensão do texto.

Severino diz o seguinte:

"Os maiores obstáculos do estudo e da aprendizagem, em ciência e em filosofia, estão diretamente relacionados com a correspondente dificuldade que o estudante encontra na exata compreensão dos textos teóricos."

O texto sobre o qual nos debruçamos é um meio através do qual o escritor procura nos passar uma mensagem. Evidentemente, não podemos saber exatamente o que o escritor tinha em mente quando escrevia, senão pelo que o texto nos diz. Como temos uma vivência diferente da do autor (cada um tem a sua), temos diferentes formas de ver as coisas. Por exemplo, o significado da expressão "ônus da prova" para mim é um, e para você que está lendo este texto provavelmente é outro. Por isso, qualquer texto técnico - como todos os que tratam do Direito - devem ser lidos com precauções, para que nossos "pré-juízos" não deturpem o sentido principal do texto.

Vejamos as diretrizes tratadas no livro que temos por base:

1. Delimitação da Unidade de Leitura

Os textos jurídicos, em geral, são bastante complexos e longos. Por isso, para que possamos ter uma compreensão mais precisa da totalidade do texto, precisamos, antes, dividí-lo. Entendendo paulatinamente o raciocínio do autor, conseguimos tornar mais acessível todo o conteúdo. Concluímos, portanto, que uma unidade de leitura é uma parte do texto que temos que estudar.

"A extensão da unidade será determinada proporcionalmente à acessibilidade do texto, a ser definida por sua natureza, assim como pela familiaridade do leitor com o assunto estudado."

Portanto, você poderá delimitar um capítulo, uma seção ou um subtítulo, conforme se sinta mais ou menos à vontade diante do tema que se propôs a estudar.

2. Análise do Texto

Em primeiro lugar deve-se fazer uma leitura completa da unidade delimitada, sem maiores paradas. Nesta leitura, onde se busca uma visão de conjunto da unidade, deverão ser assinalados os pontos que geram dúvidas, como os conceitos básicos, o vocabulário, as referências a fatos históricos etc.

Em seguida, passa-se ao esclarecimento das dúvidas, pesquisando o sentido do vocabulário, buscando esclarecer os conceitos, estudando os fatos históricos para contextualizar melhor a argumentação do autor. Aqui está a importância do material de pesquisa que servirá de base para o estudo, como os dicionários, os manuais e a internet. De posse de todos esses elementos, pode-se fazer uma esquematização, a partir de uma nova e atenta leitura, das idéias principais do texto e de como ele está estruturado (introdução, desenvolvimento e conclusão).

3. Análise Temática

O objetivo da análise temática é a compreensão da mensagem veiculada no texto. Queremos saber: a) sobre o que o texto fala; b) qual o problema e como ele está colocado; c) qual a tese defendida pelo autor; d) quais os argumentos utilizados na defesa da tese; e e) se existem e quais são as idéias secundárias.

Com a análise temática, é possível elaborar o resumo do texto, que é "a síntese das idéias do raciocínio e não a mera redução dos parágrafos" (p. 51). E isso será feito com base nas questões acima elencadas.

Ao inquirirmos sobre o que fala o texto, teremos o tema, o que nem sempre está claro no título da unidade estudada. É preciso ler integralmente o texto para ter certeza do assunto abordado.

A problematização nada mais é do que a motivação do autor. É a dificuldade, a questão, o problema que o autor se propõe a resolver.

A solução proposta, por sua vez, é a tese defendida, normalmente explicitada em uma idéia central, que nem sempre está colocada claramente ou cristalinamente elaborada, cabendo ao leitor a tarefa de compreendê-la, diante dos elementos que o autor disponibiliza no texto, através da argumentação. É a argumentação que demonstra o raciocínio do autor e dá a estrutura lógica do texto.

Finalmente, se o autor menciona idéias paralelas à idéia principal, cabe ao leitor, na análise temática, apontá-las.

OBSERVAÇÕES

Existe a possibilidade de avançarmos ainda mais a interpretação de um texto, procedendo-se uma análise mais profunda. Nesta análise, chamada de análise interpretativa, o leitor deverá buscar elementos que situem o pensamento do autor dentro de uma linha de pensamento teórico-filosófica, segundo suas influências e todo o seu referencial teórico.

Esta análise interpretativa, importante no desenvolvimento de uma pesquisa cintífica, não me parece fundamental para a finalidade que proponho, que é a preparação para um concurso da magistratura. Mas é evidente que este tipo de pesquisa coloca o estudante muito à frente daqueles que se limitam a ler textos de doutrina sem maior rigor.

De qualquer sorte, a análise textual e temática são instrumentos extremamente importantes na compreensão do conteúdo. O tempo dispendido nesta tarefa, embora pareça muito, é pequeno diante do benefício final. O estudante terá ganho um conhecimento sólido e estará de posse de um resumo que poderá ser consultado a qualquer momento.

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